Ao ler a crônica “Meu filho, você não merece nada”, escrita por Eliane Brum, me deparei com a mais pura realidade da adolescência dos dias hoje. No entanto, uma realidade da qual não faço parte.
Primeiramente, é preciso entender que a adolescência é uma fase crítica da vida de qualquer ser humano, que está interligada a esteriótipos e estigmas. Contudo, é notório que com o passar dos anos a juventude muda. Ela se adequa a época que está em vigor e com a minha geração não está sendo diferente.
Conectados, cada vez mais cedo, à rede mundial de computadores e antenados às mídias televisivas, os adolescentes vivem em função do que a globalização lhes impõe, embora não passe de uma globanalização.
Nasci na geração dos espelhos-frutas. Estranho, não é? Mas estou me referindo ao esteriótipo imposto pela sociedade e acatado com muita satisfação pelos adolescentes. É simples! Nada mais que ver uma fruta e se basear nela para definir o seu corpo. Melancias, morangos, melões... As frutas escolhidas são sempre as mais rechonchudas. Então para que estudar, se eu posso refletir uma fruta em meu corpo e ficar milionária?
A minha geração, também, é fã de músicas de letras óbvias, que não exigem nenhum tipo de esforço para sua interpretação, em que os seus interprétes são salvos pelos monossílabos, para eles não há nada que um “lá lá lá” não resolva. Entretanto, se algo de errado no meio da música acontecer é só formar um coração com as mãos e tudo passa despercebido. Então me questiono, por que ouvir Humberto Gessinger, viajar nas composições românticas e profundas do Raimundo Fagner, subentender o que quis dizer Zeca Baleiro em suas composições de frases soltas, mas que são cheias de sentido, se o óbvio existe e não me exige nenhum esforço?
Essa geração deseja um “Bom dia!” no twitter assim que acorda, depois de ter passado pelos próprios pais e não ter nem lhes olhado. Essa é a geração da distância. Ninguém se olha mais, ninguém se toca mais, ninguém se ouve mais... Esse é um ponto importante, ouvir! Foi-se o tempo em que a moça saía com um rapaz e esperava uma ligação dele no dia seguinte. Isso era sinal de interesse. Mas hoje não! Elas esperam incansavelmente que ele acesse a internet e twitte algo sobre a noite anterior.
Eliane Brum em sua crônica afirma que essa geração cresceu com a ilusão de que a vida é fácil e é por isso que acho que nasci na geração errada. Tenho plena convicção de que a vida não é fácil! Sempre estudei em escola pública, nunca viajei ao exterior, cresci ouvindo “nãos” e não tenho o celular do momento, mas tenho opinião. E é isso que falta pra essa geração. Os jovens não estão antenados e, sim, alienados. Pensar é esforço demais para eles. Faça o teste: Pergunte para alguns qual foi o presidente da república mais jovem que o Brasil já teve. Muitos não saberão, mas com certeza, saberão que o “Thiaguinho do exalta” deixará a banda e fará carreira solo! É preocupante, pois a adolescência é uma fase cheia de dúvidas, em que a verdadeira identidade está sendo procurada. No entanto, como essa geração irá encontrá-la, se não estão sendo preparados para usar o seu cerébro?
Portanto, se nadar contra a corrente é sinal de rebeldia, característica da adolescência, estou em seu apogeu. E tenho cada vez mais certeza: Eu nasci na geração errada!